Quem não dorme na hora de fazer silagem, dorme durante todo o ano

13/06/2023  |  11:02

Para alcançar bons resultados na produção de leite, o produtor deve estar sempre atento a todo o processo de produção. A sazonalidade da produção e a qualidade das plantas forrageiras podem representar significante problema da atividade. Mas não desespere, para minimizar essa questão, é necessária a utilização de técnicas de conservação de forragens e é aí que nós entramos.

Fazenda Luanda

O JORNAL HOLANDÊS conversou com o consultor em produção de silagem e produtor de leite, Luciano Ferreira Pereira que traz importantes dicas, tira dúvidas e quebra mitos sobre a utilização dos inoculantes em forragens. “A silagem é o único insumo que o produtor consegue fazer dá porteira para dentro. Se fizer bem feito reduz drasticamente os custos de produção, pois isto pode representar em torno de até 30% do custo final do leite”, comenta. Trabalhando há mais de 10 anos com inoculantes, Luciano ressalta que a sua utilização no exterior é indiscutível, todos usam esta grande ferramenta. “Tenha sempre em mente que fazer silagem é um dos poucos processos e investimentos que nós conseguimos produzir e aplicar da porteira para dentro, portanto a responsabilidade de ter uma silagem muito boa ou muito ruim é somente nossa!”, ressalta Luciano.
Acompanhe a entrevista e saiba como utilizar da forma correta este recurso que contribuirá para a saúde do seu rebanho e também para a saúde financeira da sua fazenda.

Fazenda Luanda

JORNAL HOLANDÊS: Quais são as diferenças entre silagem, ensilagem e silo?
LUCIANO FERREIRA PEREIRA:
Silagem: Forragens conservadas através de fermentação lática, que a estabiliza biologicamente preservando ao máximo o seu valor.
Ensilagem: o ato de ensilar, estocar e preservar o alimento durante a safra, podendo ser usadas várias forragens.
Silo: Recipiente ou lugar onde se estoca adequadamente as silagens.

JH: O que são os inoculantes?
LP: Os inoculantes de silagem são principalmente bactérias láticas, as quais produzem ácido lático. Ele é o responsável por baixar o pH da silagem e conferir estabilidade biológica com rapidez.

JH: Como funciona?
LP: As bactérias láticas se alimentam da glicose presente na forragem e produzem ácido lático que reduz o pH do produto ensilado preservando ao máximo possível de suas qualidades como alimento.

JH: E quando aparece a utilização dos inoculantes?
LP: Os primeiros inoculantes foram utilizados há mais de 60 anos.

JH: É caro?
LP: Não, um bom inoculante tem ótimo custo benefício, custa ao redor de R$3,50 por tonelada de silagem; os benefícios que eles trazem somente na preservação de energia, proteínas e matéria seca superam em muito este custo, o que na verdade é um ótimo investimento. Sabemos que uma silagem sem inoculante perde de 2,5 a 4,7 % de proteína e de 4,0 a 9,0% matéria seca. Veja na simulação abaixo o que acontece:

CUSTO BENEFÍCIO DE UM BOM INOCULANTE

Custo médio Produção milho/hec safra 2016/2017 => R$ 3.500,00
Custo médiode corte, carreto, compactação e lona p/hec => R$ 680,00
Custo médio por hec de material (milho) ensilado=> R$ 4.180,00
Produção média de 50 ton/hec => (R$ 4.180,00 / 50 ton/hec) = R$ 83,60 por ton de silagem

Uma (1) ton. De silagem com 35% de MS = 350 Kg de MS |R$ 83,60 / 350 kg MS = R$ 0, 239 por kg de MS
Uma (1) ton. De silagem com 8% de PB = 80 Kg de PB |R$ 83,60 / 80 kg PB = R$ 1, 045 por Kg de PB

MS 350 KG – 6,6% (perdas) = 22,7 kg (perda) X R$ 0,239 = R$ 5, 420 por ton de silagem
PB 80 KG – 3,6 (perdas) = 2,88kg (perda) X R$ 1,045 = R$ 3, 009 por ton de silagem

TOTAL EM R$ POR TON. DE SILAGEM SOMENTE COM PERDAS INVISÍVEIS A OLHO NÚ (R$ 8,429)
CUSTO MÉDIO DO INOCULANTE POR TON. DE SILAGEM (R$ 3,50)
FAÇA SUAS CONTAS !!!!

JH: Quais são os seus benefícios?
LP: Maior preservação de energia, proteínas e matéria seca; melhor palatabilidade o que resulta em maior consumo; menores perdas físicas de silagem; ausência de aminas tóxicas (que são produtos de fermentações malfeitas); maior consumo por animal/dia, resultando numa maior produção de leite, de sólidos e mais saúde para o rebanho.

JH: Quais são os aspectos fundamentais a serem observados para a obtenção máxima de seu resultado?
LP: As bactérias láticas, quando secas, necessitam de baixas temperaturas para se manterem vivas; assim, ao escolher um inoculante na loja agropecuária, certifique-se de que o mesmo está conservado sob refrigeração, caso tenha sido produzido há mais de dois meses. Do contrário, é muito provável que a contagem de bactérias que consta nas garantias já seja menor. Dependendo da temperatura a que o inoculante esteve submetido, e ao tempo transcorrido, pode-se chegar a ter contagem “zero”; já vimos isso muitas vezes. Bactérias são seres e necessitam de alguns cuidados, como qualquer ser vivo. No caso de bactérias láticas secas (ainda embaladas), elas sobrevivem por mais tempo a baixas temperaturas. Quando hidratadas corretamente, isto é, em recipientes limpos com água limpa e sem cloro, estas bactérias vivem muito bem em temperatura ambiente desde que tenham alimento.
A aplicação do inoculante deve ser uniforme, de maneira que as bactérias toquem toda a forragem: lembrar que esta é uma fermentação em meio solido (a forragem) e, portanto, não poderão dispersar-se sozinhas dentro do silo.


Quando por qualquer motivo ao final do dia tivermos sobra de inoculante já diluído (calda) deveremos acrescentar a esta uma diluição de água e açúcar (200gaçúcar p/20 a 50 Lts/calda), isto vai fornecer alimento as bactérias fazendo que elas permaneçam vivas até o dia seguinte, caso contrário morrerão.
Ao escolher um inoculante, certifique-se, nas garantias, que a inoculação garantida por grama de silagem seja suficiente: recomenda-se um mínimo de 150.000 a 200.000 UFC/gr. Maiores contagens do que estas somente trazem maiores benefícios a silagem.

JH: Durante as estações do ano, como o produtor deve se programar para utilizar esse processo?
LP: Ele fará silagem sempre que tiver forragem ou grãos para estocar; assim, o maior volume de produção acontece no verão, mas no Brasil, temos produção de silagens durante os 12 meses do ano graças às variações do clima e das forragens nas diferentes regiões.

JH: Quais as diferenças entre inoculante biológico e químico?
LP: Os inoculantes, por definição, são materiais biológicos.
Existem alguns aditivos químicos que estão sendo testados/utilizados para evitar a multiplicação de fungos e leveduras, que produzem álcool, especialmente na silagem de cana de açúcar; os mais testados são antifúngicos como o sorbato de potássio e o benzoato de sódio, mas não são inoculantes.

JH: Há inoculantes específicos para cada material?
LP: Sim.
Na ensilagem de um volumoso onde a composição (MS especialmente) permite uma perfeita compactação, é suficiente utilizar bactérias láticas.
Quando este volumoso (milho planta inteira, sorgo, capim) sabidamente não terá uma boa compactação porque foi pré-secado ou passou do ponto de corte ou ainda por qualquer outro motivo, será necessário prevenir a reprodução dos fungos; no nosso caso, adicionamos às bactérias láticas, uma bactéria propiônica, produtora de ácido propiônico (que tem a maior ação fungistática entre os ácidos orgânicos de cadeia curta), capaz de trabalhar até pH 3,7-3,8 inibindo a formação de fungos.
Esta mesma bactéria deverá sempre estar presente em todas as silagens de grão úmido e cana de açúcar.
Obs: bactérias láticas homoláticas não dão estabilidade aeróbica (inibição de fungos e leveduras) porque fungos e leveduras somente se inativam a pH abaixo de 2,0; as láticas já se inativam a pH abaixo de 3,2.

JH: Há algum inoculante melhor para o gado Holandês?
LP: A função primeira de um inoculante é baixar o pH das silagens abaixo de 4,5 o mais rápido possível e assim conferir as vantagens citadas acima, que têm a ver com a qualidade,preservação e rendimento das silagens. Assim sendo, não me parece que haja uma distinção com respeito às raças que receberão a silagem.

JH: Quais são os pontos negativos?
LP: Realmente, não vejo nenhum ponto negativo na utilização de inoculantes, muito pelo contrário.

JH: Como é a sua utilização no exterior?
LP: A utilização do inoculante no exterior é indiscutível, todos usam desta grande ferramenta. O modo de aplicar é basicamente igual a nossa: com bombas dosadoras.
As diferenças estão nas contagens de bactérias por grama de silagem, quase sempre maiores no exterior do que muitas formulações utilizadas aqui. Também são facilmente percebidas as diferenças nas temperaturas de conservação dos inoculantes, pois por aqui alguns dizem que a conservação pode ser na temperatura ambiente o que não é verdade. E como já ouvimos várias vezes no exterior, “a necessidade de inoculação não se discute.”
JH: Enumere mitos sobre os inoculantes.
LP:
1-Inoculante é dinheiro posto fora.
2-Inoculante piora a silagem.
3-Silagem de milho não precisa ser inoculada.
4- Todos os inoculantes são iguais.
JH: O que o criador tem que ter sempre em mente na hora da escolha de determinados processos?
LP: Que a sua meta será sempre, e em primeiro lugar, produzir a melhor forragem/silagem possível para seu rebanho, seja quanto ao seu valor nutritivo (quanto melhor, maiores os lucros da fazenda), seja garantia da saúde do rebanho e da saúde financeira do produtor de leite ou carne. Tenha sempre em mente que fazer silagem é um dos poucos processos e investimentos que nós conseguimos produzir e aplicar da porteira para dentro. Portanto, a responsabilidade de ter uma silagem muito boa ou muito ruim é só nossa!
Quer mais informações sobre o assunto? Você poderá entrar em contato com o nosso entrevistado pelo telefone: 035 9 9827 3324

DICAS IMPORTANTES PARA OS PRODUTORES DE LEITE

  1. O uso de inoculantes bacterianos não irá substituir nenhuma das práticas tradicionalmente recomendadas ao bom manejo da ensilagem. A função do inoculante é garantir a melhor fermentação possível; e no caso da impossibilidade de uma perfeita compactação, é dar mais estabilidade aeróbica, o que de maneira nenhuma dispensa a melhor compactação possível. São muitas as normas de produção de silagem de qualidade, a utilização de inoculantes é somente uma delas.
  2. Sempre observe as boas práticas de produção de silagem abaixo. Ela será o alimento do seu rebanho por todo um ano.
  3. A qualidade da silagem, muitas vezes, é a diferença entre o lucro e o prejuízo na atividad
  4. Não leve terra para dentro do silo nos pneus dos tratores que fazem a compactação e puxam as forrageiras a serem ensiladas. A terra funciona como um inoculante dos clostrídios e coliformes, principais inimigos da silagem de qualidade. Os tratores de compactação só devem sair de dentro do silo no final da ensilagem. Caso tenham que sair do silo, seus pneus sejam devidamente limpos e lavados quando voltarem.
  5. Cuidado na altura do corte, as partes mais baixas das plantas (50 cm) têm muita terra e alta concentração de potássio o que é totalmente dispensável numa boa silagem. O potássio se torna mais lucrativo se incorporado a própria terra posteriormente.
  6. Grande atenção com o tamanho das partículas picadas, no caso de o milho nunca deixar passar grãos inteiros no material picado, estes grãos inteiros não são digeridos, portanto, não são aproveitados.
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  7. Muito cuidado com o ponto de corte, devemos sempre procurar ter uma silagem por volta de 30 – 35% de matéria seca, dependendo se for milho farináceo ou não.
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  8. Limpar muito bem os silos antes de dar início ao processo de ensilagem, retirando todas as sobras de silagem velha do ano anterior, no piso e nos barrancos laterais. Passe vassoura de bruxa antes de ensilar, pois as paredes possuem altíssima carga de fungos e bactérias indesejáveis. A limpeza com água oxigenada, ozônio ou amônia quaternária também é indicado.
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  9. Cobrir o silo sempre com lonas novas e grossas (mínimo 200 micras) sempre nas horas mais frescas do dia para que a lona preserve sua capacidade de dilatação e retração evitando rompimentos em suas dobras. Uma camada de terra em cima da lona melhora muito a preservação da camada superior do silo com também na compactação e proteção da mesma. É bom que cubramos toda a lona sem deixar nenhuma parte exposta ao sol.
  10. Retirar uma camada diária de no mínimo 20 cm largura de cima a baixo do silo, sem fazer buracos evitando a penetração de ar no material ensilado. Quando isto acontece a fermentação volta a existir e com isto as perdas ocorrem.
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  11. Manter o silo sempre com a lona puxada em sua face de corte exceto nos momentos de retirada. Manter o piso do silo sempre limpo e sem sobras.
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  12. Dimensione muito bem seus silos para que não haja falta ou excesso de silagem, os dois são prejudiciais, e para que você consiga retirar de 20 a 25 cm de corte todos os dias. Um metro cúbico de silagem pesa entre 450 a 500 kg. Uma vaca adulta consome por volta de 1,3 ton. De silagem/ano.
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  13. E por último, o que costumamos dizer:
    Quem não dorme na hora de fazer silagem, dorme durante todo o ano.